quarta-feira, 31 de março de 2010

"Why should I buy portuguese?" (PSG)

"Why should I buy portuguese?” Faça esta pergunta em todas as línguas que conhece. Incluindo a portuguesa, nos gerúndios do Brasil. Sim, repita a pergunta “Por que devo comprar português?” tantas vezes quantas precisar até saber a resposta. Não porque queira comprar português. Mas se quer vender português. Porque a Marca Portugal é isso: é a resposta. Centenas de empresas portuguesas sabem a resposta. E muitas delas dão-na ao longo das próximas páginas desta edição, que inaugura um projecto entre o Negócios e a AICEP. Seja bem-vindo: esta é a Must Portugal Global 2010, a revista das melhores empresas exportadoras do País. Entre se faz favor.A economia portuguesa é demasiado pequena para cumprir as ambições de muitas empresas e para viabilizar os seus projectos. As exportações são, pois, o território óbvio de crescimento. Macroeconómico: o PIB, as balanças comerciais, de pagamentos, de transacções, a economia portuguesa. E microeconómico: as receitas, os investimentos, as expansões, as empresas portuguesas. Mas disputar o enorme mercado global é enfrentar uma concorrência veloz e mutante. Não basta a uma empresa fazer bem, é preciso ser reconhecida como aquela que faz bem. A diferenciação do produto. A competitividade no preço. A eficiência na distribuição. A promoção, os “stocks”, as garantias financeiras. E o rótulo: Made in Portugal. Feito em Portugal.É aqui que entra a criação de uma marca global e afirmação dos seus atributos. As campanhas publicitárias sobre Portugal penduradas nas fachadas de prédios em Madrid, coladas nos metropolitanos de Londres, fixadas nos candeeiros de Helsínquia. As feiras, conferências, redes de “networking”, os apoios, estímulos, incentivos financeiros. E a invisível e laboriosa missão da diplomacia económica, que abra portas e feche acordos, contratos, candidaturas. Tudo isto deve ser exigido a um Estado, ao seu Governo, às suas instituições mandatadas. Mas não é a marca que faz as empresas. São as empresas que fazem a marca.Esta Must Portugal Global 2010 revela as empresas, num conjunto seleccionado pela AICEP, que fazem a marca, que levam Portugal aos consumidores internacionais. A célebre máxima kennediana não está ainda suficientemente batida: também estas empresas fazem pelo País sem depender do que o País faz por elas. Ninguém fará por estas empresas o trabalho de exportar, conquistar mercados, vencer concorrentes – servir o cliente, seja ele um consumidor angolano, um entreposto espanhol, um intermediário americano, um cambista suíço. Se hoje somos reconhecidos como um país na vanguarda das energias e da fibra óptica, por exemplo, é porque empresas portuguesas apostaram nesses sectores e neles fizeram projectos de investimento – e de retorno.Os exemplos são os que se seguem. É precisamente na energia que está a maior exportadora portuguesa, a Galp. E é nas telecomunicações que outra está, a Visabeira, aliando a sua presença externa com infra-estruturas, construção e engenharia. Como o fazem a Mota-Engil ou a Zagope. Ou, a jusante, o mobiliário da Haut de Gamme, as tintas da CIN, os revestimentos da Revigrés. Foi a engenharia da Brisa, sobre a plataforma unificada e eficiente da SIBS, que no passado fizeram de Portugal “o País da Via Verde”, um sucesso ainda hoje por replicar noutros países. Que fazem estas empresas? Exportam o seu conhecimento e os seus serviços. Sim, os serviços financeiros também têm compradores no estrangeiro, como sabem e praticam a Caixa Geral de Depósitos ou o Banif. Mas há mais inovação a ser exportada, por empresas como a Bial, uma multinacional farmacêutica em concretização a partir de tecnologia com sede portuguesa. E há mais na tecnologia, há a exportação de serviços da Novabase, da Skysoft, da JP Sá Couto. Provando que “sectores tradicionais” não é antónimo de “sectores de ponta”, empresas de têxtil como a Lanidor aumentam as suas vendas disputando com as maiores multinacionais do mundo. Assim como no calçado, que se reestruturou depois das avançadas asiáticas e representa mais de 1,2 mil milhões de euros de exportações por ano. Parte das quais mercado a conquistar pela Fly London. São produtos de grande consumo, que exigem um controlo logístico e um acesso selectivo à distribuição. É o que fazem os vinhos João Portugal Ramos, os azeites da Sovena, as águas da Unicer, as cervejas Super Bock. Ou os “papéis” da Renova e da Portucel Soporcel. Estas empresas orgulham-se do passado português e escrevem também o seu futuro. Elas não decidiram partir o Galo de Barcelos; decidiram partir do Galo de Barcelos e fazer melhor. Precisam que “Portugal” seja uma marca internacionalmente reconhecível pelos atributos de qualidade. Mas são elas mesmas que, pelo seus próprios atributos, fazem a marca de Portugal todos os dias, em cada um dos seus mercados externos. E isso vale mais que todas as campanhas de publicidade. “Por que devo comprar português?” A resposta está em cada uma das empresas que fazem deste país o Portugal Global. Nos seus produtos, nos seus serviços, nos seus colaboradores, na sua personalidade. Por isso se exporta. Por isso é que importa.

sexta-feira, 26 de março de 2010

Ai, Cimpor, Cimpor... Amar-te-ão até te matarem (Pedro Santos Guerreiro)

Será mesmo verdade que o PS, perdão, que a Caixa vai impor Mário Lino como "chairman" da Cimpor? Será mesmo verdade que a Caixa chegou a desfraldar o nome de Armando Vara para administrador da cimenteira? Sim, é verdade. É triste, mas é verdade. Já não há nojo. O período de nojo tornou-se supersónico. Jorge Coelho foi um "gentleman", esperou oito anos. Mário Lino nem oito dias. Ao menos tem experiência com brasileiros: comprou-lhes a Prolagos em 1998, num negócio ruinoso para a Águas de Portugal, que presidia.Esta gente nunca mais aprende. O problema não é especificamente Mário Lino, nem o pasmo de vê-lo como alternativa ao competentíssimo Luís Palha (cuja hipótese sugere uma dissolução na Jerónimo, mas esse é outro assunto); é o à-vontade deste sistema que a Caixa promove: políticos que passam do poder tutelar para as empresas como se fossem cândidas borboletas. Saem de ministros para CEO como do Cabaret para o Convento.A Cimpor estava mal antes da OPA e pode ter mudado para pior: o assalto de empresas brasileiras pode amputá-la ou paralisá-la, por conjugação de interesses dos novos donos. A suspeita é verosímil para as próprias autoridades brasileiras: as concorrentes Votorantim e Camargo Corrêa tomaram metade da Cimpor, durante a OPA da CSN, o que pode alegar a cartelização do próspero mercado brasileiro, em prejuízo dos clientes... e da Cimpor. A teoria é de prova impossível, mas basta que a Concorrência brasileira de lá arrede a Cimpor para que o prejuízo se confirme.É por isso que muitos suspeitam de uma aliança entre a Camargo e a Votorantim, que, para mais, teve o apoio da Caixa. Já para não falar da teoria de conspiração em que a própria CSN fez parte do arranjo, avançando com uma OPA (que teria tido sucesso por mais alguns cêntimos) para servir de lebre à entrada dos outros. Nesse caso, não é um conúbio a dois, é um "ménage à trois". Sempre traindo a Cimpor.A Cimpor ameaça deixar de ser uma empresa de ponta e passar a ser a ponta de uma empresa - ou de duas. O único antídoto para essa paralisia é ter uma equipa de gestão competente, independente e forte, que defenda o motor que tem por baixo (a empresa), e não o capot que tem por cima (os accionistas). Tudo menos comissários neutros ou emissários neutralizadores, relatores ou delatores.Os cestos ainda estão a caminho da lavagem mas presidente executivo parece já haver: Francisco Lacerda, um homem Fino, um regresso merecido pela carreira que o precede, apesar de toda a escandaleira no BCP, que viveu. Mas Lacerda precisa de gerir a empresa, não os accionistas. Para isso, tem de ter um "chairman" a sério, que lhe dê respaldo das instabilidades accionistas que vão permanecer. Não de um controleiro.A Caixa esteve contra a OPA por causa da defesa dos centros de decisão nacionais. É um argumento péssimo mas é, ao menos, transparente: salve. Cometeu, em nome do mesmo argumento péssimo, ingenuidades com accionistas que dela fizeram refém: há um ano com Manuel Fino, agora com a Votorantim. Mas a Caixa tem de aprender. Até porque está a ser usada como desbloqueador de "golden shares". Na Cimpor, na Galp, qualquer dia na PT, na EDP...A empresa chama-se Cimpor SGPS, não Cimpor PS. Podem fazer dela uma vaca leiteira de dividendos, para isso ela dá. Mas isso não é um pujante projecto luso-brasileiro, é um irrelevante acordo ortográfico. Mas sempre será melhor que um acordo pornográfico...