quarta-feira, 8 de abril de 2009

Quimonda....(JN)

Há pais que não comem para alimentar um filho. Nas empresas, a lei da sobrevivência não tem romantismos: para sobreviver, a Qimonda mãe tirou o pão da boca da Qimonda filha. Os lucros acumulados em Portugal foram "emprestados" aos alemães poucas semanas antes da insolvência. Resta um crédito de uma empresa quase falida.A história é contada na página 8 desta edição: a Qimonda alemã penava, deixou de comprar à Qimonda portuguesa, o Governo arregaçou mangas, empenho e financiamento da Caixa para dar oxigénio a uma empresa asfixiada. Os alemães prometeram o que não cumpriram (avalizar o empréstimo da Caixa) e criaram falsas esperanças em Portugal. Para mais, toparam com dinheiro disponível em Portugal, 150 milhões de euros, lucros de vários anos. Levantaram-no e levaram-no para Dresden, o que em condições normais seria mera gestão financeira. Mas em tempos de encerramento de fábrica, é um expatriamento sem regresso.Os investidores estrangeiros são os melhores amigos do mundo até se tornarem desinvestidores estrangeiros. Nesse momento, rasga-se a gratidão e, até, contratos. Veja-se o caso da General Motors, que fechou a fábrica da Azambuja. O Estado português quis reaver incentivos de 132 milhões, ficou com míseros 18 milhões.A Qimonda exportava muito, mas também importava muito: era mais importante para os seus dois mil trabalhadores que para o PIB. O pedido de insolvência é, aliás, uma forma de proteger os interesses portugueses, antes que outros activos também sejam mondados. Temos do que nos queixar na Qimonda. Na GM. Até na Vodafone, que roeu a corda nos investimentos nas redes de nova geração. Mas agora, caro leitor, imagine a história ao contrário: que uma empresa portuguesa está aflita e tem uma filial na Alemanha. É contra que essa empresa seque os lucros de lá em benefício dos que trabalham cá? Pois é, o proteccionismo não é uma força política, é uma fraqueza humana.É por isso que o Banco de Portugal refez os cálculos há dias e, afinal, o saldo do investimento directo estrangeiro desta legislatura caiu 1,6% em vez de subir 16%: porque em 2007 e 2008, anos de crise financeira celerada, as multinacionais pegaram em três mil milhões de euros que habitualmente reinvestiriam em Portugal e transferiram-nos para casa.Manuel Pinho e Basílio Horta bem podem acumular recordes, como acumulam, de captação de investimento estrangeiro. O problema agora é que os lucros estão a ser devolvidos como remessas de imigrantes. É por isso que a prioridade é reter investidores: se fecham, já não reabrem, não em Portugal. E para reter não basta dar apoios e até financiamentos, que a incansável AICEP vá ao Pólo Sul negociar com o Pólo Norte; há que ter criatividade na reconfiguração dos negócios, como a Bosch está a fazer em Braga; e ter gestores que lutem pelas operações de Portugal, como a Autoeuropa teve e tem, apesar de um parêntesis quase trágico com um gestor, o anterior, que se estava nas tintas para Palmela.O investimento estrangeiro cria emprego e nem sempre gera o crescimento económico desejado. Mas é importante para as regiões em que se insere, é volumoso para o país que o acolhe e é formador para quem lá trabalha. É, também, infiel: as empresas estrangeiras são umas marias-vão-com-as-outras. Aí não temos do que nos queixar: foi por isso que também vieram connosco.